Não vai faltar arroz no prato do brasileiro

A safra com produtividade questionável e a necessidade de atender mercados para os quais o Brasil exporta arroz não devem abalar o abastecimento interno, cujo […]

A safra com produtividade questionável e a necessidade de atender mercados para os quais o Brasil exporta arroz não devem abalar o abastecimento interno, cujo consumo se mantém em 10 milhões de toneladas há pelo uma década

O presidente do Sindicato da Indústria do Arroz no Rio Grande do Sul (Sindarroz-RS), Carlos Eduardo Borba Nunes, faz questão de lembrar que o arroz é um alimento ainda muito acessível aos consumidores de todas as classes sociais. Segundo ele, um pacote de arroz de cinco quilos pode custar entre R$ 25 e R$ 30, proporcionalmente menor ao preço do feijão e do macarrão, por exemplo. O peso sentido pelo consumidor no bolso, aponta Nunes, se deveu a um ajuste de mercado que se fazia necessário e aos custos tributários do alimento gaúcho, maior produtor nacional, cuja indústria tem a mais alta carga de impostos do país.

“Mas o abastecimento do país para 2024 nós consideramos que está garantido. Vamos ter uma safra razoável no Rio Grande do Sul, houve um aumento de área em torno de 7%, mas não quer dizer que vai aumentar 7% a produção porque nós tivemos um ano de El Niño. Então nós achamos que a produtividade vai ser um pouquinho aquém do ano passado.” diz. A produção gaúcha, estimada entre 7,5 milhões e 7,8 milhões de toneladas, somada à produção de Santa Catarina e Centro-Oeste e ao contingente possível de ser importado do Paraguai, Argentina e Uruguai, vai ser suficiente para abastecer o país no ano fiscal de 2024, afirma o dirigente.

Carlos Eduardo ressalta a importância do país continuar exportando o arroz em casca e o produto beneficiado. Na análise dele, é este movimento que vai continuar impulsionando o produtor a plantar mais sem deixar que o preço do grão volte a ser aviltado. Para o empresário também há contrassensos internos que influenciam a precificação do arroz. “Teremos um aumento em abril bem significativo do ICMS, porque o arroz foi tirado da cesta básica; nós temos um aumento da CDO (taxa de Cooperação e Defesa da Orizicultura), tudo isso impactando no preço”, pontua. Por parte do governo federal, Nunes comenta do aumento da taxa de classificação na importação, que, garante ele, chegou a 620%. “Então, os governos, tanto estadual quanto o federal, reclamam do preço, mas não fazem nada para que o produto chegue mais barato à mesa do consumidor”, observa.

O presidente do sindicato acredita que o plantio de arroz para 2025 se mantenha em ritmo de crescimento já que a expectativa de preços firmes deve se manter ao longo deste ano. Mas ele alerta para a necessidade do setor pensar no longo prazo e lembrar da importância do livre mercado e da exportação como importante regulador internacional, tornando viável exportar quando o preço diminuir e importar por valor dentro do razoável quando necessário.

“Eu não tenho dúvida que nós vamos ter uma redução muito grande das exportações tanto do casca como do beneficiado, em razão de que o nosso preço hoje não está competitivo no mercado internacional. O mercado internacional suporta 22 a 23 dólares a saca, e nós estamos com o mercado interno superior a isso”, avalia Nunes. Para ele, a exportação deve atingir 1 milhão de toneladas neste ano, enquanto a importação promete ser superior, com volume entre 1,6 milhão e 1,7 milhão de toneladas. “Vamos ter um déficit na balança da safra de 2024, mas isto é o mercado que dita”, reconhece.

De acordo com o titular do Sindarroz Uruguai, Argentina e Paraguai têm excedentes exportáveis e mesmo que os preços brasileiros baixem, deve entrar no Brasil arroz paraguaio, já que o mercado brasileiro é o principal comprador do grão daquele país. De acordo com Nunes, mesmo que os níveis de exportação do Brasil fiquem em torno de 1 milhão de toneladas, o que faltar vai ser compensado pela entrada dos estoque dos países do Mercosul.

O empresário também comenta que os hábitos alimentares nacionais mudaram, o que vem influenciando o consumo do cereal no país, estagnado há mais de 10 anos na casa dos 10 milhões de toneladas anuais. “Deixamos o equilíbrio perfeito do arroz com feijão, e a população tem migrado mais para os produtos industrializados, o que aconteceu também em países como os Estados Unidos”, frisa. O setor, informa ele, vê a situação com grande preocupação, uma vez que os produtos de nicho, como o arroz integral, e que atraem consumidores preocupados com a saúde, representam ainda uma fatia muito pequena do mercado.

Fonte: Correio do Povo